A Economia Secundária do Brasil Colonial
Atividades que moldaram o interior e complementaram a economia agroexportadora
Conteúdo (texto)
Pecuária
A pecuária desempenhou um papel importante na sociedade colonial, sendo uma atividade subsidiária complementar às principais atividades econômicas. Vamos explorar os tipos de pecuária, suas utilizações e principais regiões de atuação.
A pecuária envolvia diversos tipos de animais, como bovinos, mulas, equinos, caprinos e suínos. Esses animais eram utilizados para diferentes finalidades, como alimentação, transporte, força motriz e obtenção de couro.
Pecuária no Nordeste
No Nordeste, especificamente no Sertão e no Vale do São Francisco, a pecuária era predominantemente extensiva, com baixo índice técnico. Nessa região, o gado era criado solto, utilizando áreas de pastagem disponíveis.
Pecuária no Sul de Minas
No Sul de Minas, durante o século XVIII, a pecuária era mais desenvolvida, com técnicas superiores (se comparado a pecuária anterior nordestina). As fazendas contavam com cercados e pastos mais bem cuidados. A mão de obra escrava era utilizada, e o mercado consumidor era composto pelas zonas urbanas mineradoras. Além do gado bovino, eram criados mulas, suínos, caprinos e equinos.
Pecuária nos Campos Gerais
Nos Campos Gerais, localizados no interior de São Paulo e Paraná, a produção pecuária era voltada para atender à região mineradora. A mão de obra era livre e a atividade era constituída principalmente por tropeiros, que realizavam o transporte de animais.
Pecuária no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, a pecuária contava com mão de obra livre, além do uso de escravos e indígenas. A produção se concentrava na produção de charque, sendo criados gado bovino, mulas, equinos e ovinos.
Atividade Subsidiária (complementar)
Essas diferentes regiões e suas peculiaridades na pecuária colonial refletem as necessidades e as características de cada local. A pecuária desempenhou um papel importante na economia colonial, fornecendo alimentos, meios de transporte e outros produtos essenciais para o desenvolvimento das colônias.
A atividade pecuária desempenhou um papel crucial durante o ciclo do ouro no Brasil colonial, atuando como uma atividade subsidiária que contribuiu para o desbravamento, conquista e povoamento do interior do país. Inicialmente concentrada ao redor dos núcleos de colonização oficial, como Salvador e Olinda, a pecuária expandiu-se para áreas mais distantes à medida que os rebanhos cresciam.
A Carta Régia de 1701 foi um marco importante, criada pelo então governador Geral do Brasil, a Carta proibindo a criação de gado em uma faixa de dez léguas da costa, restringindo essa área para o desenvolvimento e produção de cana-de-açúcar o que impulsionou a migração, tanto do gado como das pessoas, para o interior, primeiro para o Agreste e depois para o Sertão. As primeiras migrações partiram da Bahia em direção ao "Sertão de Dentro", ao longo da margem esquerda do Rio São Francisco, e posteriormente alcançaram o "Sertão de Fora", abrangendo o litoral da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
O processo de ocupação do interior não foi pacífico, com o Governo-Geral recorrendo aos Bandeirantes para tomar posse das terras dos indígenas. Esse movimento resultou na formação de fazendas de gado, com povoados e populações dispersas ao longo do território. O Vale do São Francisco destacou-se como uma região de melhor adaptação para o gado, ficando conhecido como "rio dos currais".
Vida no Sertão (fazendeiros de gado e vaqueiros)
A vida no Sertão era caracterizada pela criação extensiva de gado, com fazendeiros e vaqueiros desempenhando papéis fundamentais. Cada fazenda possuía extensas áreas de terra, geralmente sem cercas, eram extensão de terra com 3 letras de extensão por 1 légua de largura, como não tinham cercas essas propriedade tinha 1 légua entra elas, para separa-las. As instalações eram simples, incluindo pequenas casas cobertas de palha e currais. A mão de obra era reduzida, composta por vaqueiros e seus auxiliares, conhecidos como "fábricas".
Os vaqueiros eram responsáveis por dirigir a fazenda e cuidar do gado, enquanto os "fábricas" realizavam diversas tarefas, como amansar, ferrar e curar os animais, além de manter roças para subsistência. Esses trabalhadores, que incluíam índios, mamelucos, mestiços e negros libertos, enfrentavam uma vida difícil, com pouca variedade alimentar além de carne e leite.
A pecuária nordestina abastecia a região açucareira, com boiadas percorrendo o sertão em busca dos centros de consumo. A princípio fornecendo o gado como força motriz, com o passar do temo passou a fornecer o couro que também passou a ser um produto importante enquanto sola, ou utilizado para diversos fins, desde embalar o fumo até confeccionar roupas e utensílios.
Vida Difícil
Abundância só de carne e leite. Usavam o leite coalhado ou como queijo, apenas para o próprio consumo, sem comercializar o produto voltada para o consumo local. A farinha de mandioca, legado dos indígenas, juntou-se à carne, originando a paçoca, ainda hoje consumida pelos vaqueiros. Essa era a base da comida desses vaqueiros e "fábricas".
De tempos em tempos boiadas de 100 a 300 cabeças eram levadas até a região açucareira, principalmente Bahia e Pernambuco, levadas para os centros de consumo, enquanto força motriz. Carne-seca, também chamada carne do ceará, que se tornou um dos produtos mais importantes do comércio interno da colônia, passando a diversificar a economia relacionada a pecuária no interior e aumentando a interação entre o interior e o litoral.
O couro, subproduto, passou a ser exportado sob a forma de solas e servia também para embalar o fumo destinado à exportação. O couro passou a ser usado para tudo que cercava os vaqueiros: a porta das cabanas, leitos, cordas, cantil, alforje, mochila, bainhas de faca e até as roupas com que enfrentavam a caatinga.
As Charqueadas
Provavelmente a primeira foi criada em 1780 pelo cearense José Pinto Martins, nas margens do Rio Pelotas.
Instalações simples: um galpão onde se preparava e salgava a carne e dos secadores ao ar livre.
Séc. XVIII - Charqueadas chegaram ao Rio Grande do Sul, que foi integrada ao comercio da colonia principalmente no ciclo do ouro;
O sistema na estância também é extensivo: nas mangueiras o gado é manso; nas vacarias, bravo e sem dono.
No RS o uso de escravos foi utilizado - Considerado "inferno dos negros";
Exportava para o Rio de Janeiro, Bahia e até para Havana (Cuba)
Os caminhos de gado foram abertos por todo o Brasil, no futuro o local onde as ferrovias serão criadas
Os caminhos de gado abertos durante esse período desempenharam um papel fundamental na integração do território brasileiro, antecipando o surgimento das futuras ferrovias. Assim, a pecuária durante o ciclo do ouro não apenas sustentou a economia colonial, mas também desempenhou um papel significativo na ocupação e integração do interior do país.
Drogas do Sertão
Durante o período colonial, a exploração do sertão brasileiro foi marcada pela evangelização (jesuítas) que aprendendo com os indígenas passaram a explorar as chamadas drogas do sertão, termo utilizado para descrever plantas e substâncias com propriedades medicinais e comerciais. Vamos explorar as regiões de ocupação relacionadas a essas drogas.
Essas chamadas drogas do sertão eram encontradas em diferentes áreas do Brasil colonial. Algumas delas estavam localizadas junto aos aldeamentos, onde a presença de populações indígenas era significativa. Os padres jesuítas, responsáveis pela catequização dos indígenas, utilizavam produtos derivados das drogas do sertão como fonte complementar de recursos, vendendo-os para obter renda.
Além dos aldeamentos, as regiões de ocupação das drogas do sertão estavam espalhadas pelo Brasil colonial de forma mais ampla. Eram plantas medicinais, tinturas, resinas e outros produtos naturais valiosos. Essas produtos eram utilizadas tanto para fins medicinais quanto para o comércio, sendo enviadas para a metrópole europeia como parte do comércio colonial.
A exploração das drogas do sertão representava uma busca por recursos naturais e conhecimentos tradicionais indígenas. Essa atividade contribuiu para a ocupação de territórios no sertão brasileiro, além de ter desempenhado um papel importante na economia da época.
Essas regiões de ocupação relacionadas às drogas do sertão evidenciam a importância dos recursos naturais e do conhecimento indígena na história do Brasil colonial. A exploração dessas substâncias revela a complexidade das relações entre as populações indígenas, os padres jesuítas e os colonizadores, assim como o valor econômico e medicinal atribuído às plantas e substâncias encontradas no sertão.
Agricultura de subsistência
A agricultura de subsistência foi uma prática difundida pelo Brasil colonial, espalhada por diversas regiões do país. Vamos explorar suas características principais.
A agricultura de subsistência não estava voltada para a exportação, sendo destinada principalmente ao consumo local. Essa prática era comumente adotada por pequenos e médios proprietários, que cultivavam suas terras visando suprir as necessidades básicas de suas famílias.
A mão de obra empregada na agricultura de subsistência era essencialmente livre, envolvendo a população mestiça. As famílias trabalhavam em suas próprias terras, produzindo alimentos para consumo próprio e para a comunidade local.
A produtividade da agricultura de subsistência era geralmente baixa, pois não se investia em técnicas avançadas ou em grandes extensões de terra.
Em algumas grandes propriedades, os escravos eram alocados ou em alguns casos receberam o "direito" para trabalhar na agricultura de subsistência durante seus dias de folga. Os escravos podiam cultivar alimentos para consumo próprio ou para trocar por outros produtos.
Os principais cultivos da agricultura de subsistência incluíam mandioca, batata, cará, arroz e inhame, entre outros alimentos básicos. Essa produção local abastecia tanto as necessidades das famílias nos engenhos quanto dos centros urbanos próximos.
A agricultura de subsistência desempenhava um papel importante na garantia da alimentação básica das comunidades locais, fornecendo uma base para a sustentabilidade alimentar das famílias coloniais.
Mapa Conceitual
Economia Secundária – Mapa Mental
Pecuária
- Atividade Subsidiária (complementar)
- Tipos:
- Bovino, Muar, Equino, Caprino e Suíno
- Utilização:
- Alimentação
- Transporte
- Força Motriz
- Couro
- Principais Regiões:
- Sertão do Nordeste e Vale do São Francisco:
- Pecuária extensiva
- Baixo índice Técnico
- Sul de Minas, século XVIII:
- Técnicas superiores
- Fazendas com cercados
- Pastos mais bem cuidados
- Mão de Obra Escrava
- Mercado Consumidor: Zonas Urbanas Mineradoras
- Gado, muar, suíno, caprino e equino
- Campos Gerais (interior de SP e PR):
- Produção para a Região Mineradora
- Mão de Obra livre
- Constituída por tropeiros
- Rio Grande do Sul:
- Mão de Obra Livre, escravos e indígena
- Produção de Charque
- Gado Bovino, Muar, equino e ovino
- Sertão do Nordeste e Vale do São Francisco:
- Expansão e Impacto:
- Responsável: Desbravamento, conquista e povoamento do interior
- Carta Régia de 1701: Proibiu gado na costa, impulsionando interiorização
- Vale do São Francisco ("rio dos currais")
- Conflitos com indígenas (uso de Bandeirantes)
- Feiras de gado originando povoados (Ex: Feira de Santana)
- Vida no Sertão:
- Criação Extensiva, grandes fazendas (muitas sem cercas)
- Mão de obra: Vaqueiros e "fábricas" (homens livres, mestiços, libertos)
- Alimentação: Carne, leite, queijo, paçoca (carne + farinha de mandioca)
- Comércio: Boiadas para região açucareira (força motriz, carne-seca)
- Couro: Exportação (solas), embalar fumo, utensílios e vestimentas
- Charqueadas:
- Primeira: 1780, Rio Pelotas (José Pinto Martins)
- Séc. XVIII: Chegada ao Rio Grande do Sul
- Sistema extensivo, uso de escravos no RS ("inferno dos negros")
- Exportação: Rio de Janeiro, Bahia, Havana (Cuba)
- Caminhos de gado: Integração do território, precursor de ferrovias
Drogas do Sertão
- Exploração de plantas com propriedades medicinais e comerciais
- Regiões: Aldeamentos jesuítas, Vale Amazônico
- Motivos: Perda de portos asiáticos, colonização da Amazônia
- Produtos (usados como remédio, tempero, corante, óleo):
- Cacau (mais lucrativa, cultivada desde 1679)
- Guaraná (estimulante, usado por saterés-mawés)
- Óleo da copaíba (cicatrizante)
- Japecanga/Salsaparrilha (depurativo, diurético, antissifilítico)
- Urucum (corante, condimento)
- Cravo, Baunilha, Anil, Castanha-do-pará, Pequi
- Mão de obra: Indígena, jesuítas (complemento de renda)
Agricultura de Subsistência
- Espalhada pelo Brasil, consumo local (não exportação)
- Pequenos e médios proprietários
- Mão de Obra: Essencialmente livre (população mestiça)
- Baixa produtividade e renda
- Grandes propriedades: Escravos podiam cultivar em dias de folga
- Produtos: Mandioca, Batata, Cará, Arroz, Inhame
- Abastecia engenhos e centros urbanos próximos
Outras Atividades
- Tabaco:
- Planta Nativa, principal área na Bahia (Recôncavo)
- Pequenos produtores (brancos, mulatos), poucos escravos
- Mercado: Europa e África (moeda de troca para escravizados)
- Algodão:
- Planta Nativa, usada por indígenas
- Plantada de SP ao Pará (consumo interno inicialmente)
- Lavoura familiar, depois fazendas maiores (escravos indígenas e africanos)
- Técnicas rudimentares, descaroçadores no séc. XVIII
- 1760: Exportação regular para Europa (principalmente Maranhão)
Referência visual para pecuária: J. Batiste Debret, Campeiros dos Pampas
Referência para mapa da pecuária: Atlas FGV - O Nordeste da Cana e do Gado no Século 17
Apresentação de Slides
Aguarde, slide em produção!
Linha do Tempo
Marcos da Economia Secundária Colonial
Cacau passa a ser cultivado oficialmente no Brasil, impulsionando uma das "drogas do sertão".
Carta Régia proíbe a criação de gado em uma faixa de dez léguas da costa, incentivando a interiorização da pecuária.
Algodão do Maranhão começa a ser vendido regularmente para a Europa, marcando a ascensão desta cultura.
José Pinto Martins funda a primeira charqueada nas margens do Rio Pelotas, iniciando a indústria do charque no sul.
Pecuária no Sul de Minas se desenvolve com técnicas superiores para abastecer zonas mineradoras. Charqueadas chegam ao Rio Grande do Sul.
Expansão da pecuária pelo Sertão Nordestino e Vale do São Francisco ("rio dos currais"). Exploração das "drogas do sertão" na região amazônica.
Teste Seus Conhecimentos
Quiz: Economia Secundária no Brasil Colonial
Bibliografia
Fontes e Referências
Liste aqui as fontes bibliográficas utilizadas e leituras recomendadas.
- PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo.
- FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil.
- SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: Engenhos e Escravos na Sociedade Colonial.
- (Adicionar outras fontes relevantes)
0 Comentários
Obrigado pela Contribuição